O Software livre abriu uma nova oportunidade de realizar negócios partindo de uma premissa socialista que é o trabalho coletivo no desenvolvimento e a apropriação também coletiva do fruto desse trabalho, ao mesmo tempo grandes empresas, como IBM, Novell, Red Hat, dentre outras tentam "enquadrar" o sistema operacional Linux e outras iniciativas baseadas no software livre, tentando domesticar ou direcionar o funcionamento desse trabalho coletivo para desenvolver soluções e produtos que possam ser vendidos e apropriados pelas mesmas.
Essas empresas enxergaram corretamente que a grande jogada do software livre é o trabalho coletivo ,ou seja, um verdadeiro "ecossistema" composto por diversas comunidade trabalhando em paralelo, que se apropriam do projeto e o desenvolvem, assim para essas empresas seria a oportunidade de ter um gigantesco exército de programadores de forma quase gratuita, representando um mão-de-obra extremamente barata e qualificada, enquanto teriam que "manter" ou contratar apenas um grupo especifico de programadores mais criativos ou líderes para fazer a tarefa de gerência desse projeto. A princípio isso poderia gerar uma vantagem gigantesca sobre os demais concorrentes que ainda estariam presos ao sistema de trabalho mais antigo.
Outra característica importante de ressaltar sobre esse "ecossistema" de comunidades, seria a forma extremamente descentralizada de sua organização, ao mesmo tempo altamente produtiva, visto que essas comunidades trabalham de maneira coordenada, cooperativa e em paralelo, criando, de forma concomitante, melhorias para um projeto assim como variações e novos projetos surgidos a partir desse, não bastando isso temos que analisar também o alcance mundial dessas comunidades permitindo o trabalho 24 horas por dia praticamente todos os dias do ano, visto que se num país anoitece e um grupo se prepara para "largar o expediente" outro grupo em outro pais ou continente assume o "turno". Como o trabalho é em geral "voluntário" não existe carga horária fixa ou dia de semana fixo, podendo se estender por mais de 10 horas diárias, abrangendo todos os dias da semana inclusive sábados, domingos e feriados.
O grande problema para essas empresas é justamente o que as atrai, o caráter socialista e voluntarioso do software livre, ou seja, não há como monopolizar, restringir esse trabalho a um grupo ou empresa especifica, pois da mesma forma que eles podem se apropriar dos frutos do trabalho coletivo qualquer pessoa ou empresa também pode fazer o mesmo ou com base nesse trabalho criar uma solução sua, particular, para um problema particular e dessa forma auferir lucro, não só com a venda do produto mas com toda a gama de serviços existente em torno da solução, tais como treinamento, instalação e personalização. Todas essas características do software livres estão descritas e regulamentadas na licença GPL, documento que garante o acesso de todos os que quiserem não só ao software ou tecnologia como também aos seus códigos fontes. Por todas essa características e por botar em cheque o processo de apropriação particular do trabalho coletivo podemos afirmar que o software livre, é no ramo tecnológico, a manifestação do trabalho socialista.
Artigo de 2013 originalmente publicado em TECNOCHIBE
https://tecnochibe.blogspot.com/2013/03/software-livre-como-expressao-do.html